O caráter de uma pessoa também é medido pela forma como ela trata o garçom

O caráter de uma pessoa também é medido pela forma como ela trata o garçom

Caráter é um termo usado em psicologia como sinônimo de personalidade, e a sua análise pertence ao quadro da psicanálise freudiana. Caráter, portanto, tem a ver com a qualidade moral que cada ser humano traz dentro de si, e de que maneira essa qualidade se manifesta no cotidiano da vida face as mais diversas situações e circunstâncias. Em outras palavras, podemos dizer que: caráter são os traços particulares e o modo de ser de uma pessoa, e que lhe determinam a sua conduta moral. É apenas isso!

O meu interesse neste breve artigo não é discutir teorias ou conceitos, mas ressaltar que o mau caráter, aquele de má qualidade, quando é destilado como veneno nas relações interpessoais, ele provoca perturbações nos sentimentos de quem for o seu alvo, igualmente constrange a quem assiste a cena, e ainda, de quebra, revela a deformidade da personalidade do agente – o indivíduo causador.

As novas relações sociais, nesta Era do desenvolvimento humano e do conhecimento sem barreiras, não toleram mais os indivíduos de caráter primitivo – quer sejam em situações que supostamente poderiam “justificar” certas atitudes, quer apenas em circunstâncias meramente cotidianas, como, por exemplo: a relação cliente-fornecedor. Costuma-se dizer que o caráter pode ser medido, inclusive, pela forma como tratamos o garçom. Mas, por que o garçom? Certamente, por se tratar de uma pessoa acima da média do humanitarismo global, já que ele carrega uma boa dose de paciência para “aturar recalques” e “obedecer a vontades” de todo tipo de gente, particularmente dos primitivos.

Tempos atrás eu assisti a uma dessas cenas constrangedoras, protagonizada por um dos meus colegas de trabalho. Fomos contratados para fazer uma avaliação trabalhista em uma empresa no Rio de Janeiro; o clima no local era tenso, a empresa seria privatizada assim que as avaliações fossem concluídas. Imagine, então, a hostilidade que enfrentamos na relação interpessoal com quem nos atendeu durante todo o tempo. Contudo, ficamos firme no nosso propósito e concluímos o trabalho naquele dia.

À noite fomos jantar no restaurante do hotel, e lá estava o nosso grande personagem, aquele que é o centro da nossa reflexão neste artigo… o garçom. Ele, e ninguém mais do que ele. Sorridente e solícito. Chegamos, o cumprimentamos cordialmente e fizemos os pedidos – pratos e bebidas. Agora, restava-nos esperar. A nossa conversa corria solta, era o trabalho na empresa, a hostilidade do tratamento e a nossa conveniente tolerância com a situação, enfim…

Pois bem, passados não mais de quinze minutos, o garçom se aproximou e pediu para que o meu colega confirmasse o seu pedido – havia uma dúvida quanto à carne ser bem ou mal passada… essas coisas. Um precioso zelo com o cliente, convenhamos. Pronto! Isto foi o suficiente para que ele, o garçom, o nosso personagem, ouvisse do meu colega tudo o que um indivíduo é capaz de dizer num momento impulsivo (e repulsivo) de cólera. Uma situação, confesso, desconcertante. Eu e o garçom não sabíamos o que fazer frente à tamanha insensatez. Resumo da ópera: o jantar foi servido por outro garçom, ficamos mudos a maior parte do tempo e, o pior, sempre observados com muito repúdio pelos demais funcionários do hotel.

Bem, após este episódio a minha relação profissional com esse colega jamais foi a mesma. E, hoje, eu não sei por onde ele anda. A minha indignação? Ora, não pode haver dois pesos e duas medidas para situações iguais, nesse caso, de relacionamento interpessoal. Na empresa, durante todo aquele dia, engolimos o ’sapo’, como se costuma dizer, por conveniência contratual. No restaurante, apenas por uma noite e por intolerância pessoal, o garçom haveria de pagar o ’sapo’… ops! – o ‘pato’? Por quê? A resposta para a minha indignação, objetiva e diretamente, é: caráter primitivo não pode mais ser tolerado.

O mundo atual, particularmente o mundo do trabalho, nas empresas, exige atitudes e posturas adequadas, e o respeito ao próximo é unanimidade de pensamento, ainda que esta realidade, para muitas pessoas, pode parecer apenas utopia ou sonho de uma noite de verão.

Contudo, fique esperto. Mude! Talvez, você esteja sendo avaliado na sua empresa, durante um almoço ou um jantar, a partir de uma inocente relação interpessoal… com o garçom (putz!).

AUTOR: CARLOS MINA – consultor, palestrante e escritor (imprima e divulgue, se desejar, mas não omita a fonte).

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